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A FORÇA DO DESTINO (AN OFICCER AND GENTLEMAN): UMA REFLEXÃO A PARTIR DE NIETZSCHE

A força do Destino(1982) dirigido por Taylor Hackfordord, é um filme que conta a história de um jovem, criado por um pai(marinheiro aposentado) alcólatra e cercado de prostitutas, que se alista na marinha e sofre com os treinamentos rigorosos de um sargento “linha dura”. Esse talvez seja o único filme interessante de Richard Gere; mas a figura central é Louis Gossett Jr, que parece que tem vocação para interpretar militares no cinema, e neste filme, encarna o Sgt. Emil Foley. 


Assisti esse filme quando adolescente entre os anos de 90 ou 91; não me lembro bem. Naquela época aquele filme constituiu-se em apenas uma obra cinematográfica que gostei, mas nada além disso.. Atualmente, comecei novamente vê-lo despretensiosamente, num desses canais retrô e, não consegui desgrudar da TV até que ele tivesse terminado. O impacto foi o mesmo sobre mim, ainda o considero um filmaço. Contudo, anos mais velho e, também depois da aquisição de toda uma influência de leituras, a percepção de algumas das singularidades desse filme foi bem diferente.


Dois aspectos do filme- nessa minha segunda “assistida”- me chamaram muito a atenção: A primeira delas foi a escolha pela marinha do Jovem indisciplinado e egoísta Zack Mayo (Richard Gere). Zack era um personagem que aparentemente não se enquadraria no perfil para a formação de um oficial. Contudo, uma pergunta se evidencia: qual o motivo de sua escolha?

Partindo de uma análise a partir do conceito de vontade de potência de Nietzsche, diríamos que Zack procura a força; o poder de enfrentamento de adversidades; bem como uma forma de transcendência de seus traumas infantis, derivado de maus tratos e ausência de amor paterno.

Assim, todos os maus tratos no exercito e fundamentalmente, a forma de treinamento duro do sargento o potencializa em seu processo resiliencial de enfrentamento de revezes psicológicos do passado.

O agente provocador desse processo é exatamente o Sargento e, o seu treinamento sádico. Afinal. como diria o próprio Nietzsche:... “as vezes é preciso fazer o mal para um bem maior”.

É exatamente isso que Zack sofre; um treinamento duro; rígido, mas com a presença de um pai simbólico; pais este ausente na infância; mas que, naquele momento, representado pela figura do sargento o ajuda na superação dos traumas.

O segundo aspecto do filme, é quando Zack chateado pela morte de seu melhor amigo na marinha, vai até o sargento numa tentativa de exteriorizar sua decepção. Numa negativa do sargento de querer ouvi-lo ele insiste de forma agressiva. É ai que o sargento o chama para o ringue, no qual, os dois se espancam até o limite da exaustão.

Faltando apenas duas semanas para se formar; o treinamento de Zack fica ainda mais duro; pois o sargento usa de todas as tácticas pessoais de provocação e enfraquecimento psicológico de seus alunos. Por fim, Zack consegue seu objetivo e  no momento que recebe a sua condecoração, agora como um oficial da marinha, agradece ao sargento que procura fingir indiferença diante a demonstração de afetividade.

Por fim, indo embora em sua moto e sorrindo Zack vê um novo grupo de recrutas chegando e o sargento durão repetindo as mesmas práticas intimidadoras aos novos recrutas.

Aquele momento (des)vela para Zack o aspecto pantomímico e teatral do sargento, bem como a sua generosidade quando este permite que seus problemas sejam enfrentados- quando este(o sargento) generosamente permite que Zack resolva seus problemas a partir do combate físico com ele.

Essa é a cristalização do conceito de vontade de potencia de Nietzsche; no qual o enfrentamento dos problemas se dá pela forma e pelo olhar direto diante deles.

O filme encerra exatamente com Zack  sendo transformando, em alguém muito “melhor” do que quando entrou. Assim, tragicomicamente  apesar de todos os maus tratos vivenciados por ele na Marinha teve, ainda assim, lá ele teve os “cuidados” e, uma atenção, que nunca teve do próprio pai.

 

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