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Reflexões sobre educação a partir de 2012, o filme

Seguindo a trajetória de cinema catástrofe, 2012 conta a velha história indivíduos que conseguem escapar por um fio de situações implausíveis. Contudo, quero me ater numa parte específica do filme. A questão básica é que para sobrevivência de uma parte da espécie humana são feitas varias naves para comportarem um certo numero de pessoas. Contudo, pela necessidade econômica de financiamento dessas arcas, os ingressos para elas foram vendidos a mega valores, proporcionando apenas a magnatas a compra de seu ingresso.

Moral da história: o recomeço da espécie humana(com os sobreviventes) se inicia de uma forma pior ainda, pois, eticamente não foram as melhores pessoas as escolhidas.

Esse filme me levou a uma reflexão sobre o grande modelo de aspirações, saberes e ideologia constituinte do sistema capitalista e apropriadas, pór nós, “relis mortais” como se fossem indissociáveis a nossa existência.

Tratam-se do ter e do saber, que estão diretamente relacionadas a produção do poder. E desta forma, a necessidade de ser superior ao outro em qualquer sentido possível.

J. J. Rousseau em a Origem da desigualdade entre os homens, direciona a propriedade particular a origem de toda a diferença, desigualdade e exclusão, no sentido de produzir superioridade entre uns e outros, pois a propriedade privada faz brotar os que tem, e os que não tem por meio da concepção de posse.

Desde a minha graduação ouço sobre a “ingenuidade” de Rousseu. De sua utopia, de sua desconexão com a realidade, e outras questões que o rotulam como um teórico afastado do palpável. Contudo, o que enxergo atualmente, por meio, de Edgard Morin, Boaventura de Souza Santos e, outros teóricos do Pós-estruturalismo é justamente um reencontro com algumas das concepções do filósofo, sobretudo, de saberes que efetivamente possam contribuir para o desenvolvimento do ser humano e não de seu corrompimento (usando um termo bem rousseauriano) e a custa do desenvolvimento um processo de ruptura com o meio ambiente.

Neste aspecto, a educação constituída e predominante dentro de um modelo de sociedade ocidental, cristaliza e reproduz os modelos de desigualdade social e exclusão. Para a constituir sua sociedade, este modelo se apropria da natureza de uma forma destrutiva. Sobre a qual, em nome do desenvolvimento ela é destruída (rios poluídos, matas devastadas, etc).

Onde esta o cerne desse ponto?

Ao meu ver na educação. E me refiro a educação num processo  mais amplo e transcendental, da educação como o aprendizado cultural. Ou seja: somos educados na igreja, no trabalho, na escola, pelo nosso folclore, cultura, etc. Tudo isso produz conhecimentos, ensino e aprendizagens. Neste sentido, cada uma destas coisas se constituem em processos educativos e, por consequência, todo processo educativo é produtor de uma ideologia.

 

A impressão que tenho é que criamos uma educação que nos distancia de algumas das necessidades básicas, e nos faz enxergar o supérfluo como fundamental. Em Ecce Homo Nietzsche evidencia a  necessidade da busca do elementar e necessário a sobrevivência como forma de fortalecimento humano.  E segundo ele a medida que queremos apenas o fundamental (agua, comida, abrigo e liberdade) nos fortificamos e enxergamos o resto como supérfulo, desnecessário e produtor de fraqueza no ser humano.



Numa análise dentre os fatores produtores de fraqueza enxergo algumas questões. Dentre elas:



1) Negação da finitude



Negamos a nossa finitude quando não compreendemos, que como toda espécie, estamos sujeitos a extinção. Isso é algo natural e, parte do ciclo da vida, portanto necessário e ciclíco. Contudo, o homem foge dessa aceitação, produzindo meios que, de alguma forma, negam a simples ideia de não existência. Um dos meios é a ciência, que se auto evidencia como salvadora do ser humano, de suas doenças, de suas necessidades e de sua própria moradia pós- Terra, a medida que procura novos mundos para habitações futuras.

Neste aspecto vemos na filmografia de ficção científica um pouco da ideologia, expressa na ciência. Com os homens em outros planetas, viajando pelo universo e, em muito casos, vivendo como um nômade espacial.

Só tem um problema.

A questão não é apenas nosso planeta, as próprias galáxias se colidirão um dia e isso faz parte da “dança” universal. Sendo assim, a extinção é absolutamente inevitável e parte do processo.

Assim a negamos enquanto podemos, enquanto o deveríamos fazer é justamente o contrário. Pontuar a nossa fragilidade como ser humano e, assim, evidenciar a  não existência um dia.

 

2) Negação do outro



Negamos o outro a partir do momento que afirmamos apenas o EU. O capitalismo é o grande defensor do eu, do “ensimesmamento” da ignorância do OUTRO. O que queremos, queremos para si mesmo. Para o EU, isso é fruto de uma educação que prioriza a individualização egoísta, que ignora o outro e o analisa como competidor. Modelos como de eficiência e qualidade total, potencializam esse processo de produção da diferença e da total alienação do ser humano acerca da compreensão de que o outro é também parte de si e, portanto, existe uma responsabilidade individual sobre o coletivo.



3) Negação do humano



Negamos o humano quando afirmamos o mecânico e o mecanizador. Substituindo pessoas por máquinas e, por isso, gerando desemprego e fome. Mais do que isso, tentando até mesmo mecanizar processos que são humanos. Fertilização artificial, clonagem e outros. E ai questiono: Até que ponto esse modelo de sociedade que modifica, desestrutura e polui não produz justamente um ser humano estéril, frágil, doente e vulnerável?


4) Afastamento da natureza



Este é o processo mais evidente e que sentimos na carne agora. Aquecimento global, poluição de rios, extinção de espécies animais e vegetais, desastres naturais, etc. Todos provocados por um sistema econômico, que não apenas se apropria da natureza a transformando. Mas também a aniquilando, esgotando seus recursos e se afastando cada vez mais dela.


5) Afirmação do supérfluo



O supérfluo é a grande personificação deste atual modelo. Celulares, carros, computadores, Internet, televisão a cabo, radio, relógio, etc. Enfim, basicamente quase tudo que é produzido não é essencial a sobrevivência humana. Não deixamos de viver sem essas coisas. Contudo, o capitalismo nos faz apropriar dessas coisas denominando-as como itens de conforto pessoal. E o pior de tudo, é que essas coisas já estão tão interiorizadas culturalmente pela maioria, que simplesmente não nos admitimos sem elas.


É necessário, uma educação que fuja da alienação produzida pelo capitalismo e, por todo esse processo subjacente e educativo. Me refiro a uma educação que pensa a ética como componente e fator primordial, de um processo formador de um cidadão com consciência social e voltado para o bem comum. Dentro do pós-estruturalismo, isso poderia ser definido como uma visão planetária de realidade.

Precisamos de uma sociedade, que acima de tudo, tire suas vendas e enxergue o caminho que estamos tomando. É preciso conscientização, reflexão e um retorno não ao que alguns denominariam como primitividade; mas ao que denomino como fortalecimento do ser humano como indivíduo e espécie. Desta forma, é preciso negar o que não é fundamental a sobrevivência.

E fundamental significa nos voltar ao que é humano.

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